Querido diário,
Menos de dois meses depois do falecimento da minha avó, foi a vez do meu avô partir. Não partir lenha, como ele era acostumado, partir dessa vida para uma possível outra vida.
Trago a mesma reflexão da outra vez. É difícil entender e aceitar que as pessoas vão embora e o que nos resta serão as lembranças dos momentos juntos e fotografias.
Depois do velório, minhas tias e tios foram na casa de meus avós para separar as roupas e objetos que dividiriam e doariam. Era, provavelmente, a última vez que eu estaria naquela casa.
Existem coisas muito distintas que nunca mais acontecerão e que aconteciam somente na casa de meus avós:
O rádio ligado no último volume, porque eles trabalhavam na roça, então o som tinha que chegar onde eles estivessem. Meus avós não tiveram a destreza de conhecer uma JBL.
Os copos de água em cima da televisão. Eu era o neto doente, então cada vez que eu ia lá, era um protocolo de bênçãos e água benta, uns leites doces fermentados, uns chás sei lá, e a preocupação de que eu estivesse bem. Deu certo, não tenho nenhum problema hoje.
Sentar na área para tomar chimarrão.
Voltar pra casa com sacolas cheias de frutas.
Eu estou triste.
E acredito que meu avô estava muito mais triste em não ter a minha avó por perto. 65 anos de companhia que, de repente, desapareceu.
Ao mesmo tempo que sinto essa tristeza, sou feliz por ter vivido boa parte da minha infância perto deles. Vou sempre sorrir quando lembrar que eles acreditavam que eu estava fazendo medicina quando fazia o doutorado.