Minha avaliação do livro do Matthew Perry chamou a atenção de algumas pessoas. Minha nota foi 6 de 10, com muita consideração, porque na verdade queria ter dado um 4 ou 5. Neste post eu trago o porquê dessa nota.
Eu recomendo o livro, sério mesmo. Apesar de ser um livro ruim — na minha opinião — é interessante entender o ponto de vista de uma pessoa viciada em drogas e, ao mesmo tempo, famosa.
Todo mundo conhece ele e ter a oportunidade de falar de um assunto tão estigmatizado, para o tamanho da audiência que ele possuia, foi um feito incrível.
Só que, é muito importante separar o personagem, Chandler, do ator. O livro não é sobre aquele personagem carismático, cheio de piadas, meio desengonçado que conquistou o coração de gerações e também o meu.
Muito do meu jeito de fazer piadas atualmente é inspirado em seu personagem.
Foi uma das únicas pessoas famosas que, quando faleceu, eu me senti meio triste. Mas eu gostava do Chandler, o ator mesmo, Matthew, não era meu Friend.
Dito isso, sabendo que o Chandler e Matthew Perry não são a mesma pessoa, o livro conta como Matthew viveu com o vício e como lidou com ele por todos esses anos. Principalmente, contando com detalhes, os problemas fisiológicos e psicológicos acarretados pela doença.
Por que eu não gostei?
A história é mal contada, cheia de pulos temporais em que ele se identifica como criança adulta, ou adulto criança, numa tentativa desesperada de fazer o leitor entender as origens do vício e quem é culpado de tudo isso. Ele parece não ter bem definido de quem é a culpa.
E é aí que a coisa fica chata.
Uma pessoa viciada é uma pessoa que tem uma doença. Sua origem pode acontecer de forma gênica, ou por contextos ambientais que favoreçam a utilização de drogas. As consequências da falta tratamento são devastadoras, tanto para quem possui, tanto para quem vive por perto.
Digo isso com conhecimento de causa. Pessoas muito próximas de mim possuem problemas com alcoolismo e outros vícios. Quem convive sofre também, e muito.
A pessoa com o vício usa, mesmo que sem intenção — porque o cérebro necessita quimicamente da droga — de todos os artifícios possíveis para manipular pessoas e o ambiente para conseguir mais da substância.
Matthew mostra muito bem isso no livro. Por essa razão, se você admira muito o cara, pode não ser uma boa ideia lê-lo.
A experiência que tive com pessoas manipuladoras por causa de vícios ou outras coisas me fez ler o livro com um ceticismo muito grande. Em alguns trechos eu pensava:
— Tá, e você quer que eu fique com pena por você não estar recebendo os remédios, em que você é viciado, nessa casa de reabilitação na Suíça, e decide pegar um jato, gastar alguns milhões, e ir para outro lado do mundo porque lá você consegue comprar e usar? Sérião?
Sim, isso está no livro.
Dando meio que um spoiler, ao final ele conta como está sóbrio e como tenta se manter. Só que estamos em dezembro de 2023 e ele já está morto. A autópsia identifica drogas em seu corpo.
O livro, para mim, é mais um grande teatro, criado inconscientemente, por alguém que busca se redimir e se livrar da culpa de seus atos. Uma espécie de coitadismo, que funciona bastante até, quando você não é super rico e famoso.
Isso não quer dizer que ele não tenha sido uma pessoa boa. Tenho certeza que sua história de luta pode ter inspirado muitas pessoas e tal. Mas eu gosto muito mais de histórias de superação de pessoas reais e próximas e, dificilmente, essa superação acontece.
Admiro pessoas que conseguem se manter longe de seus vícios.
Suas batalhas constantes e diárias para se manterem sóbrias são difícies e longas. Sei quanto é difícil. Isso exige disciplina, força de vontade, medicação, ajuda de profisisonais e suporte de pessoas queridas.
Espero que o Matthew esteja, finalmente, em paz.
Seu trabalho foi formidável e tenho certeza que muitos fãs o lembrarão pra sempre.
Mas o livro, desculpa, não é bom não.