Querido diário,
Comecei a assistir uma série que muitas pessoas me indicaram, This is Us. Se você ainda não assistiu, trata-se de uma comédia dramática (mais drama do que comédia) que conta a vida de uma família com todos os seus problemas.
A família é composta por um pai, uma mãe, ambas pessoas brancas, magras, mais três filhos. Um é adotivo e negro, uma filha é obesa e o outro é o que costumamos chamar de heterotop.
Bom, é fácil prever que essa construção de cenário pode trazer para a mesa diversas situações problemáticas decorrentes da vida familiar.
A série possui seis temporadas, mas somente assisti até o final da segunda.
Acredito que a intenção dos roteiristas era construir diversas situações que vemos no mundo real, a ponto de nos identificarmos facilmente e, além disso, construir personagens cujos seus defeitos façam com que construamos afeição e entendamos suas atitudes diante de cada um dos problemas apresentados.
Se a filha é obesa e viciada em comida, é porque no passado os eventos fizeram com que ela perdesse o controle e agora lute contra todas as pressões decorrentes de uma vida estigmatizada.
Da mesma forma, se o filho adotivo negro é super controlador e ansioso, é porque o estigma de estar em uma família branca demanda, mesmo que de forma inconsciente, que ele se destaque, seja perfeito, e consiga ocupar uma posição social rara.
Se o filho estrela do cinema é viciado, é porque a morte do pai, um acidente que acabou com sua carreira de jogador de futebol, e a validação que as pessoas não davam para ele, o fizeram ser alcoolista e não conseguir manter relações saudáveis, duradouras e, mesmo com 36 anos, dependa dos conselhos da irmã para decisões simples da vida.
Eu sei que os três parágrafos acima não arranham a superfície da profundidade que a série traz em diversos contextos problemáticos. Mas a forma como eu escrevi sobre os três filhos acima, demonstra como eu me identifiquei com a série.
Todos temos defeitos, todos somos influenciados por fatores externos e vivências do passado. Essas interações moldam nosso comportamento e nosso caráter.
No entanto, chega um momento da vida em que nós nos tornamos adultos e os nossos próprios problemas vão exigir que deixemos o passado um pouco do lado para que as coisas sejam resolvidas, por nós mesmos. Uma vez que conseguimos entender as raízes do nosso comportamento, podemos fazer escolhas e agir para que as coisas sejam diferentes.
Sei que não é fácil e para mim não foi fácil querer enxergar algumas verdades.
Começar um acompanhamento terapêutico tem me ajudado muito em perceber algumas coisas que são tratáveis em mim, mas que são tratáveis nas coisas fora de meu alcance.
Viver uma vida adulta e madura é viver dentro da realidade.
Para mim, a série me ajuda a ver que muitas coisas que tento controlar não são reais e estão fora do meu alcance. Mostra que posso me acalmar e ter uma vida boa e que mesmo que eu tente, dificilmente estarei blindado para todas as coisas e dificuldades do mundo.
Mas para não dizer que a série é perfeita, tem algumas coisas que me incomodam um pouco:
Todo episódio tem uma lição. Talvez na época da televisão, quando a gente assistia um episódio por semana isso fosse legal. Mas agora, com os serviços de streaming, maratonar pode se tornar bastante chapante. Por isso, tento assistir um ou dois episódios por vez.
Todas as coisas são resolvíveis. Eu sei que podem ser, mas na série acontece muito rápido. Claro que isso é por causa do roteiro e tal, mas é que na vida real as coisas não se resolvem tão fácil porque dificilmente agimos na direção de uma solução e na série sempre tem alguém pra dar o conselho certo. Na vida real tá todo mundo ferrado, ninguém sabe muito bem o que tá fazendo e os conselhos normalmente acabam em amnésia no dia seguinte.
O Jack não podia ter morrido. Porque não deu tempo de ele mostrar mais defeitos. Ele teve o alcoolismo, mas se tratou bonitinho e aí morreu como herói e não teve mais oportunidades de fazer merda.
Por hoje é só.
Se você assistiu, deixa aí nos comentários sua opinião. Vamos falar sobre essa série :)